Festejos em Honra de Nossa Senhora da Nazaré
Sítio da Nazaré
8 de Setembro – Dia de Nossa Senhora e do Município
Organização: Confraria de Nossa Senhora da Nazaré
Solenidade de Nossa Senhora da Nazaré (Festa da Casa)
Eucaristia Solene – Campal, seguida de Procissão Solene e Bênção do Mar
Largo lateral da Igreja, Santuário de Nossa Senhora da Nazaré e Ermida da Memória e ruas do Sítio.
Tapetes de flores pelas ruas do Sítio, enfeite das varandas com colchas; enfeite e iluminação da fachada e do interior da Igreja
“Nazaré em Festa” - Festa pagã associada à festa religiosa com feira de actividades económicas, divertimentos, tasquinhas e gastronomia, e concertos musicais ( no Parque Atlântico – Sítio da Nazaré).
Círio da Nossa Senhora da Vitória
Nazaré/ Sítio da Nazaré e Paredes da Vitória
Dia da Espiga – Quinta-Feira da Ascensão – Festa móvel
Organização: Comissão Organizadora do Círio de Nossa Senhora da Vitória e Confraria de Nossa Senhora da Nazaré
Largo da Igreja, Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, Capela de Nossa Senhora da Vitória em Paredes da Vitória
Cortejo a cavalo e procissão
Festa pagã associada à festa religiosa
É, sem dúvida, uma das festas mais acarinhadas pela população da Nazaré, a que a vertente de espetáculo e de animação não é alheia.
O Círio de Nossa Senhora da Vitória permanece, ano após ano, século após século, como manifestação de fé e devoção, mas também como uma das melhores demonstrações da fusão entre o sagrado e o profano.
A presença humana no local onde se fundou a vila de Paredes remonta, segundo vestígios arqueológicos, à Pré-História, mas terá sido particularmente evidente na época da ocupação romana. Este local encontrava-se edificado no cimo de uma encosta virada para o mar, sobressaindo o seu porto aberto na escarpa, defendido por um esporão natural da rocha contra incursões oriundas do mar.
A povoação de Paredes recebeu carta de foral em 17 de Dezembro de 1282, no reinado de D. Dinis.
O crescimento dessa vila teria termo por volta do reinado de D. Manuel, passando a verificar-se um notório declínio. As conjecturas que explicam esse declínio são várias, sendo a mais plausível aquela que aponta para um assoreamento da vila, provocando-se o entulhamento das casas e do porto. José de Almeida Salazar afirma que esta vila possuiria um forte e 17 caravelas para a defesa do seu porto, que teria sido destruído pelas areias em 1600. Manuel Brito de Alão, Administrador da Casa Real da Nossa Senhora da Nazaré, assegura que naquele areal teria existido uma povoação de grandes dimensões, a que chamavam Paredes e que se teria despovoado devido a areias movediças e soltas que a cobriram, e também por ser alvo de piratas, o que teria motivado a sua mudança para a Pederneira. No local de Paredes ficaria apenas uma pequena ermida, no local onde teria existido uma Igreja paroquial dedicada a Nossa Senhora da Vitória. Dá-se, então, uma migração da população de Paredes para a Pederneira, em busca de refúgio. Importa mencionar o facto de o mar ser bastante mais reentrante naquela época do que na atualidade, chegando a banhar a Pederneira, o que propiciou aos pescadores a manutenção da sua atividade – muitos continuaram a ir pescar em volta do local de Paredes, visto aquela zona ser muito abundante em pescado. A diminuta população que se manteve na vila procurou apoio espiritual em Nossa Senhora da Vitória, que gradualmente foi ganhando importância. Pensa-se que este culto se venera desde os fins do século XIII, quando D. Dinis deu carta de foral a Paredes. No entanto, o círio votado àquela divindade terá tido início no momento da migração da população de Paredes para a Pederneira, que teria transportado consigo não só os privilégios e forais, mas também o culto de Nossa Senhora da Vitória, assegurando a sua manutenção.
Embora o círio tenha sofrido algumas interrupções na sua realização posterior, o culto da Virgem permaneceu constante, através da deslocação de devotos do Sítio e da Pederneira rumo a Paredes, como forma de agradecer a Nossa Senhora da Vitória as graças e as mercês que tinham alcançado mediante a sua intercessão. Esta divindade era igualmente vista como protetora dos navegantes, o que propiciou a deslocação de muitos fiéis antes da sua partida para a guerra do Ultramar ou para a pesca do bacalhau em terras distantes. Desta forma, nas paredes e no chão da ermida os devotos escreviam as suas preces e agradecimentos à Virgem. Levando-lhe por vezes oferendas, fotografias ou pinturas, em sinal de agradecimento às promessas realizadas. No entanto, pode-se afirmar que o culto a Nossa Senhora da Vitória foi perdendo gradualmente o seu caráter católico e familiar, acentuando-se uma dimensão festiva com traços profanos. A dimensão salvífica de Nossa Senhora da Vitória acentuou-se em 11 de Abril de 1925, quando supostamente terá ocorrido um milagre, no qual o barco Gazela de José Maria Tinoco e a sua tripulação foram salvos de naufragar na praia de Paredes. O milagre atribuído à Virgem imortalizou-se pelos versos populares: «A Senhora da Vitória, Mãe dos Homens do Mar, ela estendeu o seu manto, para o Gazela encalhar». A narrativa do milagre rapidamente se espalhou, intensificando deste modo o afluxo das gentes à ermida de Nossa Senhora da Vitória que, na década de 20 do séc. XX tinha conhecido um retrocesso. Na primeira metade do século XX, o círio passou a realizar-se em 11 de Abril ou 1 de Maio, integrando assim o ciclo festivo da Primavera. Posteriormente, passou a ser efectuado na Quinta-Feira de Ascensão, dia em que não se trabalhava, podendo todos comparecer em peregrinação à vila de Paredes. O círio era formado junto ao Santuário de Nossa Senhora da Nazaré, logo pela manhã, começando com as três tradicionais incursões em volta desse edifício. Na última volta entoavam-se as loas: «Do Sítio da Nazaré/ Vamos todos em romagem/ À Senhora da Vitória/ Prestar a nossa homenagem». Ao mesmo tempo, uma banda musical, vestida a rigor, acompanhava a romaria, seguida por três crianças vestidas com trajes de anjos que cantavam as loas e se deslocavam em burros enfeitados, levando uma bandeira com um largo galão dourado, que era segurada pelo mais alto, enquanto os outros dois sustinham na mão as guias. Logo atrás viria um casal de juízes, empunhando o juiz a bandeira e a juíza a guia. A todo este ritual assistia a multidão, que se espalhava nas escadas do Santuário e no largo.
A organização do círio ficaria a cargo do juiz, na medida em que possuía o respeito da maioria e escolhia o secretário e o tesoureiro para o auxiliarem na organização. No círio os romeiros iam vestidos com roupa domingueira, fazendo- se representar elementos de todos os estratos sociais. Ao chegar a Paredes, efetuava-se uma pequena procissão com a imagem venerada, de seguida o círio executava voltas à ermida tal como as que tinha dado ao Santuário, recitando os anjos mais loas. Dentro da ermida realizava-se a missa, sermão e entrega das oferendas a Nossa Senhora da Vitória, sendo alinhadas as velas oferecidas enquanto ardiam no soalho da capela. A festa continuava, assumindo agora um caráter pagão, dando lugar às cantigas, ao baile e almoço no areal. No regresso ao Sítio, repetiam-se as voltas ao Santuário e a entoação de loas. O círio terminava com a entrega da bandeira aos juízes do ano seguinte e com o lançamento de foguetes.
Em meados do século XX, o círio propriamente dito conheceu um período de interregno, embora as romagens se tenham mantido. Em alguns anos, o círio chegou a formar-se na Praia, na praça Manuel de Arriaga. Na segunda metade do século XX, os romeiros acampavam na praia de Paredes, cerca de um mês antes do dia de realização do círio, instalando-se em tendas de tecido colorido, semelhantes às utilizadas na época balnear para alugar aos turistas.
Atualmente, o círio adquiriu de novo importância e, embora não reúna as multidões de outrora, continua a ser organizado anualmente com sucesso. O círio atual demonstra como a tradição de outros tempos ainda se mantém, pois aqueles que tiveram de abandonar as suas casas há cerca de cinco séculos continuam, através das gerações de agora, a realizar a romaria à Senhora que os protegeu. Transmite-se, deste modo, um legado de grande importância, não só a nível religioso, mas sobretudo cultural, visto que olhar para o círio de hoje, é como olhar para uma parte da história da Nazaré, é confrontarmo-nos com as nossas próprias origens, é compreender o presente, relembrando o passado.